segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Em linhas gerais com o juízo de fora*

De longe ele observa nossa presença e aproximação. A rotina na penitenciária de Linhares fora quebrada com nossa aparição. Ele, baixo, calvo e com um bigode típico de filme policial estadunidense. Confessou que quando começara as atividades há anos atrás teve contato com cinco outros presos políticos. Foi muito atencioso, como todos os outros que ali nos rodeavam. Nitidamente estavam muito mais impactados que nosso próprio personagem principal. Acredito que de alguma forma eles sentiam a necessidade de se desculpar em nome de seus antecessores.
Alguns presos tentaram promover uma comunicação, também queriam ser artistas, mas nosso foco era outro. Nosso foco ainda era a memória que se espalhava sob a tinta fresca que escorria sobre o piso Escher e que cobria a parede e as grades dos corredores do primeiro pavilhão, a memória de um Afonso que a cada dia que passa mergulha mais fundo na sua e na nossa história, com sua roupa poética-litero-filosófica de um escafandrista, e claro, sua paixão pelo açúcar e a manteiga, acreditando que um dia a verdade surgirá, e todos serão contemplados com a notícia de que o colesterol faz bem a saúde.

carlos segundo
juiz de fora

*por chico de assis e paulo brasil

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