O sol ainda se esforçava em escalar os montes que cercavam a cidade. Ele sentado na cobertura do hotel assistia a programação da TV e se assustava com a constatação de que aparentemente em todas as partes do mundo as programações televisivas se padronizavam e praticamente repetiam seus formatos. Àquela hora, sete e quarenta e dois da manha, deixado de lado o confuso horário, certamente na África ou mesmo na Espanha, a tela exibiria os seus mesmos moldes.
Na cobertura do hotel, onde era servido o café e era possível avistar o nascer e o se por do sol, havia um casal de peruanos, uma família de bolivianos, além de inúmeros brazucas que atravessaram quilômetros seguindo seu time de coração que naquela mesma noite enfrentaria a equipe local, Colo Colo. Sim, estava em Santiago, o maior condomínio [natural] horizontal do mundo.
Após dois dias de colonização e pré-produção algumas observações caberiam. O mais extenso país da América tinha sim suas particularidades, o clima seco e o ar poluído causava um ardor na vista e um ressecamento no nariz. A água que descia dos Andes tinha um gosto pesado, resultado da enorme quantidade de sais, naquela manha ele ainda sentia os resquícios do mal estar causado pela mesma, decidiu não mais arriscar e apenas beber água engarrafada. O país também passou pela pior experiência de ditadura no continente, logo depois de historicamente a população escolher de forma democrática pelo sistema socialista de governar. É verdade que em alguns momentos sentimos sim que seu povo parou no tempo, ainda é possível encontrar lojinhas que vendam fitas cassetes com títulos “Samba da Bahia – 97”, mas por sua vez Santiago é uma cidade segura que hipnotiza qualquer um que em sua terra pisar. Os pais, que conseguem viver dignamente com apenas três salários, brincam com seus filhos que o tempo todo não param de dizer “Papa, papa, papa...”. E apenas o que nos assusta nos primeiros dias é o fato da conta de um jantar para cinco pessoas, normalmente pescado ou pollo com papas fritas, trazer em seu rodapé um valor final de 14 mil pesos.
Sua mente poluía-se de tanta informação. Tudo era muito novo. Tudo era muito cedo. E seu portunhol ainda o incomodava. Fato, o mais rápido possível ele se matricularia em um curso, sentia vergonha por dominar a língua inglesa e mal saber se comunicar com seus visinhos latinos. O sol então entrou pela vidraça, tocou sua nuca e ele sorriu. Pensou nas gravações que se iniciariam no mesmo dia, re-pensou cada detalhe. Pensou também em tomar outro chá, preferia café, mas o nescafé não lhe descia pela goela, tai algo que realmente ele sentiria falta em pouco tempo. E por fim antes de se levantar para se servir, lembrou que teria de enviar um e-mail para seu gerente explicando o porquê de seu cheque ter voltado no dia anterior. Afinal, felizmente ou não, no Brasil ainda não se pega dois anos de cadeia por um simples cheque voador.
carlos segundo
brasil
22 - 02 - 09
Nenhum comentário:
Postar um comentário