Sem sono e ao som do álbum “Life could be a dream” do Pink observo pela janela do hotel o relógio da catedral [coincidentemente as 06:15 horário local, 02:15 horário tupiniquim] que ainda dita o ritmo da cidade de Dresden. Rathaus, resistiu ao tempo e a guerra, mas hoje, paradoxalmente, se sente ameaçada e começa a se confundir com os novos hospedes ocidentais, conglomerados e edifícios da nova geração que aos poucos sufocam os espaços.
Minhas mãos ainda tremem com o vento que nos recebeu em Dresden. Chegamos mesmo na madrugada de ontem, exatamente [e digo exatamente por conta da pontualidade “britânica” que encontramos por aqui] as 06:15 a.m., completando um total de 35 horas e 52 minutos de trajeto e duas noites completas sem dormir entre vários diferentes meios de transporte; carro, avião, ônibus, avião, ônibus, esteira, avião, ônibus, avião, ônibus, trem, trem e trem. Por conta da TAM [e ela que me aguarde], tivemos que chegar mais tarde na cidade de Berlim, que em francês se pronuncia Berlâm [deixemos os trocadilhos de lado, estes já foram feitos] e não conseguimos transporte direto para Dresden. O fato é que depois de tudo, um pouco de fome, cochiladelas rápidas aqui e ali nos bancos do trem, e a dura do recepcionista do hotel por chegarmos atrasados [essa foi demais], todos ainda sorriam e arriscavam algumas anedotas no café da manhã que encheu nossa pança antes do fechar dos olhos para o dia que já se iniciava – a cidade só nos veria mais tarde.
Ainda é madrugada do dia 27 no Brasil. Ontem a tarde eu e Afonso caminhamos pela cidade velha enquanto os outros ainda dormiam o sono merecido. A paisagem e a sinfonia são indescritíveis. A janela do antigo ateliê de nosso personagem ainda se posiciona de frente para o rio que divide a velha e a nova cidade e também me transporta no tempo, confesso que meu coração doeu lembrando por várias vezes meus 20 meses de Inglaterra [dia 07 próximo torturarei um pouco essa saudade]. A Europa é realmente convidativa, suas enigmáticas e decididas mulheres também. Uma arquitetura barroca pesada – falo particularmente de Dresden – e a sedução espalhada no ar, levada pelo vento frio que corta a pele e deixa a sensação dos menos três graus na ponta do pé, que só se equilibra por conta dos quarenta que são impulsionados e saem pela veia principal.
Já não espero mais nada desses dias que se sucedem em nosso último encontro com a rica memória de Afonso. Também não espero mais nada de meus vários encontros e desencontros com a vida. Não espero nada até mesmo do meu próximo esbarrão com os olhares de Sandra, a garçonete que me atendeu há poucas horas. É como diz meu amigo Zé [Airton para os mais desavisados] em uma de suas frases prontas de bolso, alias um bolso que parece mais uma capanga, transbordando pensadores; “Viver está acima de qualquer entendimento”, acho que essa é da Lispector, desculpe minha ignorância.
07: 43, é hora do café.
carlos segundo
27-02-09
dresden - alemanha
Minhas mãos ainda tremem com o vento que nos recebeu em Dresden. Chegamos mesmo na madrugada de ontem, exatamente [e digo exatamente por conta da pontualidade “britânica” que encontramos por aqui] as 06:15 a.m., completando um total de 35 horas e 52 minutos de trajeto e duas noites completas sem dormir entre vários diferentes meios de transporte; carro, avião, ônibus, avião, ônibus, esteira, avião, ônibus, avião, ônibus, trem, trem e trem. Por conta da TAM [e ela que me aguarde], tivemos que chegar mais tarde na cidade de Berlim, que em francês se pronuncia Berlâm [deixemos os trocadilhos de lado, estes já foram feitos] e não conseguimos transporte direto para Dresden. O fato é que depois de tudo, um pouco de fome, cochiladelas rápidas aqui e ali nos bancos do trem, e a dura do recepcionista do hotel por chegarmos atrasados [essa foi demais], todos ainda sorriam e arriscavam algumas anedotas no café da manhã que encheu nossa pança antes do fechar dos olhos para o dia que já se iniciava – a cidade só nos veria mais tarde.
Ainda é madrugada do dia 27 no Brasil. Ontem a tarde eu e Afonso caminhamos pela cidade velha enquanto os outros ainda dormiam o sono merecido. A paisagem e a sinfonia são indescritíveis. A janela do antigo ateliê de nosso personagem ainda se posiciona de frente para o rio que divide a velha e a nova cidade e também me transporta no tempo, confesso que meu coração doeu lembrando por várias vezes meus 20 meses de Inglaterra [dia 07 próximo torturarei um pouco essa saudade]. A Europa é realmente convidativa, suas enigmáticas e decididas mulheres também. Uma arquitetura barroca pesada – falo particularmente de Dresden – e a sedução espalhada no ar, levada pelo vento frio que corta a pele e deixa a sensação dos menos três graus na ponta do pé, que só se equilibra por conta dos quarenta que são impulsionados e saem pela veia principal.
Já não espero mais nada desses dias que se sucedem em nosso último encontro com a rica memória de Afonso. Também não espero mais nada de meus vários encontros e desencontros com a vida. Não espero nada até mesmo do meu próximo esbarrão com os olhares de Sandra, a garçonete que me atendeu há poucas horas. É como diz meu amigo Zé [Airton para os mais desavisados] em uma de suas frases prontas de bolso, alias um bolso que parece mais uma capanga, transbordando pensadores; “Viver está acima de qualquer entendimento”, acho que essa é da Lispector, desculpe minha ignorância.
07: 43, é hora do café.
carlos segundo
27-02-09
dresden - alemanha
3 comentários:
Oi, Chê!
Na verdade nós deveríamos dizer "pontualidade germânica".
Bom saber notícias de vocês, que tudo se passe muito bem aí.
abraços a todos
Oi, Carlos. Muito legal o seu texto. Dah bem pra imaginar o cenario e as pessoas (que gatonas alemas!)
Desejo a voces um bom trabalho e que o vento vah mais devagar, devagar, devarinho...
Beijao da Mami
acertou velho amigo, é clarice mesmo.
suas andanaças e angustias confirmam isso...VIVER ULTRAPASSA TODO O ENTENDIMENTO , MERGULHE NO QUE VOCE NÃO CONHECE.
grande abraço.
ZÉ. (Airton paraa os desavisados).
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